Segundo novo estudo, a acidificação dos oceanos pode impulsionar o crescimento de conchas em caracóis e ouriços do mar.
Os oceanos do mundo todo estão se acidificando rapidamente enquanto absorvem enormes quantidades de dióxido de carbono (CO2) liberado da queima de combustíveis fósseis.
Isso é uma má notícia para pequenas criaturas marinhas como corais e ouriços-do-mar que compõem a base da cadeia alimentar oceânica.
A água ácida não apenas destrói suas conchas, mas também dificulta a construção de novas.
Agora, cientistas que estudam caracóis marinhos descobriram um efeito colateral inesperado dessa fermentação ácida.
Isso pode ajudar alguns deles a construir conchas mais grossas e fortes, tornando sua alimentação mais nutritiva.
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A acidificação acontece quando o oceano absorve CO2 atmosférico. Como o CO2 dissolve, o processo libera íons de hidrogênio, diminuindo o pH da água e aumentando sua acidez.
Essa água ácida também remove muitos íons de carbonato flutuante que organismos como mexilhões e moluscos usam para construir suas robustas conchas.
Sob essas condições, é preciso muita energia para essas criaturas construírem cascas grossas o suficiente para suportar o estresse adicional.
Mas alguns estudos de laboratório sugerem que mais alimentos, como as algas, poderiam ajudar a fortalecer as conchas de organismos marinhos e, assim, compensar alguns dos danos causados pela acidificação dos oceanos.
Os cientistas preveem que as alterações climáticas vão fazer exatamente isso, porque o CO2 extra, aumenta a disponibilidade de nutrientes, como o nitrogênio, essencial para o crescimento de algas.
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Para descobrir o que está acontecendo na natureza, Sean Connell, um ecologista da Universidade de Adelaide, na Austrália, e seus colegas viajaram para a costa da Ilha Branca (Whakaari), na Nova Zelândia, um local com alta concentração de CO2 na água.
Os pesquisadores coletaram cinco caracóis (Eatoniella mortoni), juntamente com cinco amostras de algas.
Os caracóis desse local, tiveram suas conchas construídas duas vezes mais espessas e mais duráveis do que as conchas de caracóis de outros locais, Connell e seus colegas relataram este mês no Proceedings of Royal Society B.
As algas eram quatro vezes mais abundantes e tinham 11% mais de proteínas e carboidratos do que em outros locais, o que significa que os caracóis tinham um suprimento maior e mais nutritivo de alimentos.
Connell atribui isso à disponibilidade extra de nitrogênio.
O pH mais baixo da água permite que as plantas marinhas, como as algas, absorvam mais Nitrato, uma forma de nitrogênio, permitindo que as plantas produzam mais proteína.
“Reconhecemos que a energia governa a vida”, diz Connell. “Se essas conexões de energia existem na natureza, sua descoberta pode mudar a maneira como pensamos sobre espécies ameaçadas.”
O estudo foi feito “elegantemente”, diz Iris Hendriks, bióloga marinha do Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha, em Madri.
No entanto, ela acrescenta: “Há muitos ‘mas’ aqui”. Por exemplo, Hendriks se pergunta se as descobertas poderiam se aplicar a organismos que não são conhecidos por sobreviver em águas ácidas.
Além disso, ela observa, é difícil prever o que acontecerá nos ecossistemas, que têm interações complexas – e às vezes conflitantes.
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O biólogo marinho Ulf Riebesell, que lidera o departamento de Oceanografia biológica no Centro de Pesquisa Oceânica GEOMAR Helmholtz, em Kiel, na Alemanha, concorda.
“O estudo é único em mostrar um organismo que se beneficia com base em uma mudança alimentar”, diz ele, “mas isso implica que essa condição pode ser utilizada como parâmetro para outros sistemas marinhos. Eu seria mais cuidadoso ao fazer isso”.
Apesar da ideia de que alguns organismos marinhos podem resistir aos perigos da mudança climática, no entanto, Riebesell diz que a biodiversidade ainda está diminuindo, especialmente nas fontes de CO2, e isso pode tornar os ecossistemas menos resilientes.
“Mesmo que alguns organismos se beneficiem do aquecimento e da acidificação, ainda há perdedores”, diz Riebesell, “e a adaptação evolutiva não é rápida o suficiente para compensar a perda”, completa.
Matéria original publicada em Sciencemag.