Há uma pequena quantidade delas na natureza, mas você sabia que as focas mais raras do mundo se reproduzem em cavernas secretas?
As focas mais raras do mundo foram filmadas em cavernas secretas de reprodução no norte de Chipre. Os novos locais de reprodução trazem um pouco de esperança para uma espécie que se encontra em grandes dificuldades.
As focas-monge do Mediterrâneo (Monachus monachus) são as mais ameaçadas de todas as espécies de pinípedes – um grupo que inclui focas, leões marinhos, lontras e morsas – com apenas 700 indivíduos na natureza, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza. Um grande número dessas focas vive em Chipre e em seus arredores.
Devido às pressões humanas, como captura acidental e turismo, as focas-monge foram forçadas a criar seus filhotes dentro de sistemas de cavernas, ao invés de praias abertas habituais na ilha. Um novo estudo usando armadilhas fotográficas, realizado por pesquisadores da Universidade de Exeter no Reio Unido e da Sociedade para a Proteção de Tartarugas (SPOT) no Chipre, revelou várias cavernas de reprodução até então desconhecidas no norte do país, as primeiras a serem encontradas ao longo da costa norte da ilha.
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“O estudo encontrou reprodução regular, identificou locais importantes e mostrou que algumas focas estão usando o local ano após ano”, disse a autora principal Damla Beton, bióloga marinha do SPOT, em um vídeo sobre o assunto. “É muito importante garantir que esses locais sejam protegidos”.
Forçadas a viver em cavernas
Durante séculos, pescadores do Mediterrâneo mataram focas-monge por uma séria de razões: as focas danificavam seus equipamentos de pesca, além de competirem pelas mesmas presas; e a pele de foca pode ser vendida no mercado negro por seus benefícios não comprovados para a saúde. Mais recentemente, elas foram introduzidas no comércio para entretenimento em grandes aquários, de acordo com a Seal Conservation Society no Reino Unido.
Historicamente, as focas-monge teriam usado as praias como lugares para descansar e criar seus filhotes como todas as outras espécies de focas. No entanto, por causa da caça e da falta de praias intactas, elas foram forçadas a usar locais alternativos.
“Hoje, as focas precisam de cavernas para se reproduzirem e criar seus filhotes fora da vista dos humanos”, disse Beton.
Embora as cavernas mantenham as focas-monge e seus filhotes seguros, apenas um pequeno número de cavernas monitoradas é adequado para filhotes, de acordo com os pesquisadores.
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Em 2007, uma pesquisa encontrou 39 cavernas de reprodução na costa sul do Chipre (embora várias tenham sido destruídas desde então). No entanto, apesar de serem vistas com frequência no norte da ilha, não há evidências de que elas estivessem se reproduzindo ali.
“Há muito se sabe que elas usam as costas do norte do Chipre, mas em 2013 observamos um filhote em Alagadi [no norte de Chipre], o que confirmou a reprodução da espécie nesses locais”, disse Beton no vídeo. “Em 2016, iniciamos os primeiros levantamentos de reprodução usando armadilhas fotográficas colocadas em cavernas.”
A pesquisa continuou até 2019 e revelou que, das oito cavernas monitoradas, as focas usavam três para reprodução. Em uma das cavernas, uma única foca também conseguiu criar filhotes por três anos consecutivos, sugerindo que esses locais são criadouros de alta qualidade e podem desempenhar um papel importante na manutenção do número de populações da espécie.
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Perder seus locais de reprodução não é o único desafio que as focas-monge enfrentam.
“Outra grande ameaça as focas-monge nesta área é a captura acidental”, disse Beton no comunicado. Isso significa que elas são acidentalmente pegas nas redes, o que geralmente causa afogamento antes de serem libertadas.
“Precisamos trabalhar com os pescadores para garantir fontes de alimento para as focas-monge e prevenir a captura acidental, especialmente ao redor dessas cavernas”, completa Beton.
O estudo foi publicado em 2 de março no Oryx – International Journal of Conservation.