Cientistas franceses estão planejando criar peixes na Lua com o objetivo de fazer com que os astronautas tenham opções mais saudáveis para comer.
Uma equipe de cientistas franceses teve uma ideia que pode parecer bastante absurda, mas faz sentido. Afinal, quando a ESA (Agência Espacial Europeia) construir sua Moon Village, uma base na Lua, o que os astronautas vão comer? Uma das opções do cardápio é: peixe fresco.
O plano na verdade é bem básico. Levar ovos da Terra e usar água minerada da superfície lunar para que os animais possam se desenvolver. A estratégia, no entanto, ganhou mais chances de dar certo após pesquisadores descobrirem que embriões de peixes conseguem sobreviver durante o trajeto até o espaço. Por isso, não parece algo tão absurdo criar os animais por lá.
Como testaram a ideia?
Para testar a ideia, cientistas da Universidade de Montpellier e do Ifremer (Instituto Francês de Pesquisa de Exploração do Mar) colocaram 200 ovos de Badejo e de corvina dentro de instrumentos que recriaram a experiência de lançamento de um foguete (no caso, o russo Soyuz). A pesquisa foi publicada na revista Aquaculture International.
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Em uma viagem espacial, por exemplo, são dois minutos mais extremos, da explosão dos motores, e mais oito de forças intensas, durante a subida da nave. Por isso, os ovos passaram por dois testes: primeiro, foram balançados em um “shaker” orbital (para simular a subida); na sequência, sofreram vibrações muito mais intensas em outra máquina (simulando o lançamento).
De acordo com a equipe, os ovos foram expostos a muito mais forças do que em qualquer viagem espacial. E o resultado foi melhor que o esperado: 76% dos badejos e 95% das corvinas eclodiram após os testes de resistência.
Para se ter uma ideia, esses números são comparáveis ao aproveitamento de ovos em situações normais aqui na Terra. No grupo de controle, 82% dos badejos e 92% das corvinas tiveram sucesso.
“Isso foi insano. O ambiente foi muito duro com esses ovos.”, disse o autor principal, Cyrille Przybyla.
De acordo com o estudo, foram escolhidos embriões e não peixes adultos devido à maior resistência deles – peixes jovens ou adultos precisariam de muito mais cuidados para sobreviver em um foguete.
Considerando o processo evolutivo, os ovos precisaram “aprender” a vencer as adversidades dos ambientes aquáticos, como fortes correntezas, ondas e impactos com superfícies duras. Logo, podemos dizer que eles são naturalmente prontos para o espaço.
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Por isso, a primeira etapa da pesquisa foi selecionar o peixe. Foram priorizados aqueles com menor necessidade de oxigênio, pouca liberação de dióxido de carbono, breve período de incubação, tolerância a níveis variáveis de salinidade e resistência a partículas carregadas – a radiação no espaço é maior que na Terra. Entre cem candidatos, chegaram ao badejo e à corvina no fim.
Qual a importância disso tudo?
Além dos benefícios nutricionais – muito melhor consumir um alimento fresco, saboroso e rico em proteínas e vitaminas, do que comida embalada, desidratada e cápsulas -, a criação dos animais também pode tornar a vida na Lua mais agradável para os astronautas.
“Do ponto de vista psicológico, é melhor ter lembranças da Terra, como jardins e tanques cheios de peixes”, acredita Przybyla.
O “lago” artificial seria criado com água da própria Lua ou de reuso, pois seria inviável transportar grandes quantidades de água marinha terrestre até lá. Após a primeira remessa de ovos, seria um ambiente autossustentável. Daria para ter até um peixe de estimação.
Entretanto, os cientistas estudam a possibilidade de aquicultura de outras espécies marinhas na Lua, como mexilhões e camarões, que talvez sejam até melhores escolhas do que os peixes, pois precisam de menos espaço e oferecem mais calorias por massa. Essa é apenas uma das cerca de 300 ideais que fazem parte do projeto Lunar Hatch, da ESA.