As corydoras sobrevivem aos ataques de inúmeros predadores com dentes afiados nos rios da Amazônia. Mas como isso é possível?
Em um laboratório de biomecânica da Califórnia, pesquisadores encenaram o que poderia ter sido a luta mais desigual de todos os tempos. De um lado estava uma piranha de barriga vermelha, o terror de dentes afiados da Amazônia. No outro havia uma pequena Corydora Leopardo (Corydoras trilineatus), um animalzinho que não passa de três centímetros.
A piranha encurralou a cory em um canto, colocou-a na boca e a mastigou por cerca de 10 vezes – apenas para que o pequeno bagre se contorcesse e voltasse para o seu canto, embora tenha ficado um pouco irritado.
Veja também:
Como essas pequenas corydoras sobrevivem aos ataques desses predadores com dentes afiados? De acordo com pesquisas recentes publicadas na revista científica Acta Biomaterialia, o segredo está em sua armadura: escamas especiais feitas de colágeno e mineral que revestem seu corpo. Os pesquisadores esperam que os humanos possam imitar essas escamas para criar materiais mais fortes e mais leves, como armaduras corporais.
Tente outro dia…
A corydora leopardo (Corydoras trilineatus) pertence a um grupo taxonômico chamado de bagres blindados e passam a maior parte do tempo nas margens arenosas e no fundo dos rios lamacentos do Amazonas e seus afluentes. Elas usam seus pequenos barbilhões revestidos de papilas gustativas para procurar por alimento.
Com apenas três centímetros de comprimento, esses pequenos peixes podem ser comidos inteiros por alguns grandes predadores, incluindo lontras gigantes e botos cor-de-rosa. Mas quando se trata de piranhas – ainda mais as menores, que tendem a se interessar por elas – as escamas da corydora dão à criatura uma chance de lutar.
A mordida de uma piranha é capaz de arrancar as entranhas de peixes de tamanho semelhante sem armaduras. Mas as corydoras acabaram se mantendo bem firmes. Elas alargam seus espinhos afiados em suas nadadeiras peitorais e nas costas para forçar as piranhas a ficarem longe de seu corpo, uma vez que uma mordida bem dada pode resultar em uma decapitação.
Veja também:
As piranhas geralmente atingiam a cauda, mas lutaram para romper a armadura da corydora. Quando o fizeram, elas tiveram que mastigar em média oito vezes para fazer um pequeno “amassado” em sua armadura na cauda. As piranhas ainda tiveram muita dificuldade em romper as camadas abdominais – conseguiram apenas 20% das vezes, com uma média de 10 mordidas.
Três das piranhas desistiram depois que seus ataques falharam, enquanto outras sete continuaram até conseguirem dar um fim no pobre animal. Lembrando que o teste foi realizado em laboratório, onde as corydoras não conseguiam se esconder. No entanto, na natureza, a água turva e as plantas fornecem muitos lugares para um peixe esperto se esconder.
“Você só precisa manter sua armadura intacta até que a piranha o solte”, diz Misty Paig-Tran, professora associada de ciências biológicas da Universidade do Estado da Califórnia. Se conseguirem escapar sem danificar seus órgãos internos, “elas viverão para lutar contra outra piranha outro dia”.
Paig-Tran diz que não está surpresa que peixes como o “minúsculo tanque de guerra da Amazônia”, como ela chamou as corydoras, possam ter escamas tão duras. Afinal, elas estão aqui há milhares de anos.