Em um pequeno trecho de fluxo rápido do rio Valsan, na Romênia, uma equipe de cientistas tenta salvar um peixe de 65 milhões de anos.
O Asprete, de 65 milhões de anos, foi descoberto por um estudante de biologia em 1956 e, durante décadas, oscilou à beira da extinção.
“Depois de muitos anos tentando salvá-lo, muitos diziam que a espécie estava extinta”, disse Nicolae Craciun, um biólogo de 59 anos, à BBC. “Mas tinha certeza de que eles ainda existiam”.
O Asprete, um pequeno peixe noturno que adora se esconder entre rochas, tem um futuro incerto e enfrenta inúmeras ameaças.
As estimativas oficiais somam uma população em torno de 10 – 15 espécimes, que se pensa existirem em um trecho de 1 km do raso e rochoso Valsan. Isso se compara a cerca de 200 espécimes no início dos anos 2000.
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Mas uma pequena equipe de cientistas e conservacionistas está fazendo campanha para salvar essa espécie, conhecida como Romanichthys valsanicola. E eles foram encorajados por uma descoberta recente no rio.
“Uma das maiores recompensas”
Um dia, no final de outubro, Andrei Togor, um biólogo de peixes de 31 anos, estava monitorando algumas espécies de peixes “pescadores” do Asprete quando descobriu 12 espécimes em uma pequena área do rio Valsan.
“Ver um Asprete diante dos nosso olhos foi fantástico”, disse ele à BBC. “É uma das maiores recompensas que um biólogo de campo pode obter.”
O Asprete é um conhecido fóssil vivo, o que significa que sobreviveu por milhões de anos praticamente inalterado. Mas apenas seis décadas de atividade humana impactaram severamente seu habitat e população.
Um dos maiores impactos sobre a espécie foi a criação de uma série de represas hidrelétricas, construídas na rede de rios montanhosos sob o regime comunista da Romênia no final dos anos 1960.
Até então, acredita-se que o Asprete tenha habitado cerca de 30km do Valsan e também dois rios paralelos: o Arges e o Raul Doamnei.
“Ele sumiu do Raul Doamnei porque não havia mais água por lá. Durante um ano o leito do rio ficou quase seco”, diz Andrei Togor. “O plano comunista não se importava com essa espécie endêmica. Esses peixe é muito raro por causa dos humanos.”
Durante a primavera, o proeminente alpinista e conservacionista Alex Gavan decidiu usar seu perfil público para aumentar a conscientização sobre o Asprete, que significa “áspero” em romeno.
“Passei minha infância no Valsan”, diz ele. “As lendas sobre os peixes da época eram como mitos, as pessoas se perguntavam se eles ainda estavam no rio.”
Junto com o biólogo Nicolae Craciun e vários outros, ele traçou um plano de ação para salvar os peixes pré-históricos.
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“Foi feito com voluntários e nosso próprio dinheiro”, diz ele. “Salvar esta espécie seria uma inspiração de que nem tudo está perdido.”
Em uma manhã clara no início de novembro, o trabalhador de resgate nas montanhas Adrian Dascalescu estava em uma estrada na montanha adjacente a uma grande barragem hidrelétrica. Ele se lembra das barragens sendo construídas.
“Vi que faltava água no Valsan, metade do que era antes”, diz ele. “Eu costumava ver o peixe e depois foi ficando cada vez mais difícil.”
Ao longo da estrada acidentada da montanha, há vários locais de extração de madeira. O desmatamento é apenas uma das muitas pressões adicionais sobre o rio que ameaçam a sobrevivência dos peixes fósseis.
Outras ameaças incluem a fragmentação do rio, a degradação do habitat, a eliminação ilegal de resíduos e o roubo do cascalho e pedras grandes do leito.
“Muitas pessoas pegam pedras e areia do rio para usar na construção”, explica ele.
O Asprete está incluso na lista de espécies criticamente ameaçadas da Convenção de Berna sobre Vida Selvagem Europeia e Habitats Naturais. O seu ambiente é protegido por lei, mas os ativistas reclamam que as regras ainda são ignoradas.
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Um plano oficial de 2016 do ministério do meio ambiente da Romênia, visto pela BBC, parece apoiar os argumentos dos ativistas de que a Hidroelectrica, a empresa estatal que gerencia as barragens, está falhando em observar os regulamentos sobre a quantidade de água que deve liberar rio abaixo.
Mesmo com a própria admissão do estado, isso ameaça o Asprete.
“A vazão do rio cai a zero, imediatamente a jusante [da barragem]. No verão, a diminuição da vazão de acumulação a jusante às vezes é extremamente severa”, afirma o documento.
Um outro documento da Agência Nacional de Proteção Ambiental afirma:
“Para os Aspretes, as espécies de peixes mais importantes da área, o principal perigo é o não cumprimento da vazão da barragem de Valsan.”
“É inaceitável e eu e minha equipe estamos aqui para mudar isso”, disse Alex Gavan.
A BBC abodou a Hidroelectrica para comentar, mas não recebeu nenhuma resposta oficial. Em off, eles insistiram que deram ouvidos à agência de proteção ambiental e respeitaram todas as regras da Romênia.
O plano de ação para salvar o Asprete também inclui a restauração ecológica da bacia do rio Valsan, um guardião 24 horas, aumentando a conscientização local – e, finalmente, um centro de conservação ribeirinho que irá dobrar como um criadouro em cativeiro.
“Ter algum Asprete em cativeiro pode ser um retrocesso, caso ocorra uma catástrofe no rio”, disse Nicolae Craciun, acrescetando que eles poderiam potencialmente repovoar os rios Arges e Raul Doamnei.
Alex Gavan afirma que o plano de ação exigirá milhões de euros em financiamento e considera-o significativo, uma vez que será assinado por uma portaria ministerial. “Será o roteiro para salvar o Asprete.”
Como acontece com todos os projetos de conservação em que os humanos devastam a natureza, é uma corrida contra o tempo.
No entanto, a recente descoberta de 12 Aspretes aumentou as esperanças de que a população seja mais abundante do que as estimativas oficiais sugerem.
“O Asprete é um fóssil vivo, que precisa ser protegido com a maior importância possível por cientistas e conservacionistas”, diz Craciun. “Eles são testemunhas da evolução.”
E para Andrei Togor, a sobrevivência dos peixes é “um barômetro para a saúde do nosso planeta.”
“O Asprete está aqui há 65 milhões de anos. As pessoas não podem simplesmente destruí-lo em 50 anos – não está certo”, completa.
Fonte: BBC.