Os peixes dormem como os humanos, sugerindo que aprendemos a “descansar” há cerca de 450 milhões de anos atrás.
Uma nova pesquisa sugere que o popular peixe paulistinha dorme como os humanos, e que isso deve ter evoluído há mais de 450 milhões de anos com antepassados. Os cientistas sugerem que nossos ancestrais parecidos com peixes, desenvolveram uma espécie de “sono lento” antes de começarem a rastejar para fora do oceano.
Embora os peixes de hoje não consigam fechar os olhos (já que não possuem pálpebras), as mudanças em seus cérebros e músculos são as mesmas que ocorrem nos seres humanos.
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Além disso, os cientistas já sabiam que isso ocorria em mamíferos, aves e répteis. No entanto, o fato de ter sido registrado em um paulistinha, sugere que é uma adaptação muito mais antiga do que se pensava.
“Enquanto os mamíferos modernos têm seu primeiro ancestral há 70 milhões de anos atrás, os peixes modernos derivam de ancestrais que viveram há 450 – 500 milhões de anos”, disse Philippe Mourrain, da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, ao jornal The Independent.
“O fato de que encontramos a dinâmica do cérebro e do corpo similares tanto no paulistinha quanto nos humanos, podemos sugerir que essas assinaturas neurais e musculares já estavam presentes em nosso ancestral comum há mais de 450 milhões de anos.”
Assim como os humanos, os peixes perdem o tônus muscular, os batimentos cardíacos diminuem e eles não respondem aos estímulos quando estão dormindo.
A única diferença real é a falta de movimento rápido dos olhos durante o sono REM (durante esta fase, os olhos movem-se rapidamente e a atividade cerebral é similar àquela que se passa nas horas em que se está acordado), descobriram os pesquisadores.
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Para estudar os peixes, eles construíram um microscópio que capta uma espécie de luz fluorescente, para obter imagens de todo o corpo em uma resolução extremamente alta. Então, eles registraram a atividade cerebral enquanto o peixe dormia.
Durante esse processo, observaram a frequência cardíaca, o movimento dos olhos e o tônus muscular, de acordo com o estudo publicado na Nature.
À medida que o peixe se prepara para entrar no sono REM, entretanto, uma onda de atividade viaja em direção à cauda, fazendo com que os músculos do peixe fiquem frouxos (cerca de sete segundos).
Em seguida, outra onda de atividade (cerca de 11 segundos) varre o peixe. Essa onda é semelhante àquela que desencadeia movimentos oculares rápidos em mamíferos.
Embora os cientistas não possam saber com toda certeza que todos os animais dormem, parece ser uma necessidade universal.
Os benefícios exatos ainda são um mistério, mas as pessoas que não conseguem dormir o suficiente sofrem lapsos de memória, bem como um maior risco de obesidade e pressão alta. Além disso, os distúrbios do sono também estão relacionados a doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson.
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“Esta pesquisa é fundamental, pois reforça a ideia de que o sono tem funções centrais que são conservadas em todos os animais. O sono ajuda na manutenção e a remodelação das conexões neurais”, disse Mourrain.
Os cientistas dizem que entender as funções do sono em animais, pode nos ajudar a entender melhor as consequências da interrupção dele.
“Como as assinaturas neurais dos peixes são essencialmente as mesmas que as nossas, podemos usar informações sobre elas para gerar novas pistas para testes de drogas”, disse Louis Leung, da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford.
Por fim, ratos – muitas vezes um substituto para a pesquisa humana – são noturnos e um modelo menos relevante para o nosso sono.
“Como os paulistinhas são diurnos como os seres humanos, talvez seja mais preciso do ponto de vista biológico, comparar o sono dos peixes com os humanos”, completa Leung.
Referências
L. C. Leung et al. Neural signatures of sleep in zebrafish. Nature. Published online July 10, 2019. doi:10.1038/s41586-019-1336-7.