Os peixes são muito mais inteligentes do que você imagina, e isso possui implicações no bem-estar animal, segundo o biólogo marinho australiano Culum Brown.
Você já deve ter ouvido falar que os peixes possuem uma memória de até três segundos, no entanto, o biólogo marinho relata que os animais podem se lembrar das coisas por até um ano.
Brown estuda os peixes há 25 anos e dirige o Laboratório de Comportamento, Ecologia e Evolução de Peixes da Universidade Macquarie, em Sidney.
Um de seus primeiros experimentos mostrou que os peixes podiam aprender a escapar de lacunas em redes de arrasto, depois de presenciar o movimento da rede por cerca de cinco vezes.
“Na verdade, testei os mesmos peixes um ano depois e eles se lembraram da localização exata dessas rotas de fuga”.
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“Eles aprenderam muito rápido e se lembraram disso por quase um ano – é certamente muito mais do que apenas três segundos”.
“Isso me convenceu de que os peixes são muito mais inteligentes do que as pessoas lhes dão crédito”.
Peixes e tubarões exibiam um comportamento social complexo, relata Brown. Além disso, grandes grupos de peixes encontraram as rotas de fuga na rede de arrasto mais rápido do que os pequenos, sugerindo que eles aprenderam uns com os outros, disse ele.
“Os peixes podem passar informações de uma geração para outra, que é como fazemos na cultura humana”.
A pesquisa mostrou que as arraias possuem “uma excelente memória e que podem distinguir até mesmo os dias da semana”, disse Brown.
Um grande número de arraias se reunia em locais onde pescadores jogavam restos de peixes em determinados horários do dia e nos finais de semana, quando os restos eram abundantes.
Mesmo quando havia mau tempo, significava que poucos barcos haviam saído, mesmo assim, as arraias aguardavam o banquete que previam que fosse aparecer no horário habitual, disse ele.
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“Como os animais fazem isso, nós não sabemos”.
Os peixes poderiam aprender a evitar anzóis por experiência própria, já que poderiam ver outros peixes serem fisgados.
“Na verdade, existe um aprendizado social sobre evitar anzóis, e isso dura cerca de um ano”.
Em 2002, entretanto, os pesquisadores descobriram alguns receptores de dor em peixes. Brown disse que os peixes exibem sinais óbvios de estresse, como ficar ofegantes, se esconderem e evitar a comida.
Segundo o estudo, os peixes sentem dores maiores até mesmo do que muitos outros mamíferos. Há evidências claras de que cefalópodes, como polvos e lulas, e decápodes, como lagostins e camarões, podem sentir dores da mesma forma que outros peixes, disse ele.
Em muitos países, por exemplo, as leis de bem-estar animal excluem os peixes, mas Brown esperava que isso fosse mudar à medida que a legislação chegasse às descobertas científicas.
“Você deve pensar nos peixes da mesma maneira que pensa em um porco, uma vaca ou qualquer outro animal”.
A aquicultura agora é maior em todo o mundo, a princípio, muito mais do que o comércio de peixes selvagens. Brown está ajudando a desenvolver algumas diretrizes de bem-estar para o setor de aquicultura na Europa.
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Atualmente, a Nova Zelândia exporta lagostins vivos e Brown se preocupa com o bem-estar dos animais, da mesma forma que na exportação de bovinos e ovinos vivos.
O biólogo marinho cresceu no sudeste asiático mergulhando nos “recifes mais incríveis” e mantêm em sua casa aquários desde quando era pequeno.
“Uma das primeiras coisas que notei quando comecei a criar peixes, foi que eles só me reconheciam, porque eu os alimentava, no entanto, agora sabemos que os peixes são capazes de até mesmo reconhecer rostos humanos”.
Pesquisadores descobriram que os peixes ensinados a reconhecer uma foto de alguém de frente, podiam reconhecê-los de perfil.
“Eles não apenas se reconhecem, mas também reconhecem rostos humanos”, completa Brown.
Matéria original publicada em RNZ.
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