Os peixes podem ter a capacidade de se reconhecer em um espelho, no entanto, esse assunto levanta muitas questões sobre a inteligência animal e autoconsciência.
Em um novo estudo, uma espécie conhecida como Bodião-limpador (Labroides dimidiatus), respondeu ao seu reflexo e tentou remover marcas em seu corpo durante um teste em um espelho. Esse método é considerado como um padrão para determinar se os animais são autoconscientes.
A descoberta publicada em 7 de fevereiro no jornal PLOS Biology, sugere que os peixes possuem capacidades cognitivas muito mais desenvolvidas do que se pensava. Isso ajuda a alimentar o debate sobre como avaliamos a inteligência de animais que são tão diferentes de nós.
Os pesquisadores do Instituto Max Planck de Ornitologia (MPIO) e da Universidade da Cidade de Osaka (OCU) relatam que seus resultados fornecem evidências claras de comportamentos que parecem passar por todas as fases do teste do espelho. No entanto, a interpretação do que eles significam ainda não é tão clara: uma marca no teste do espelho demonstra que os peixes possuem autoconsciência – um traço cognitivo que se pensava estar presente apenas nos primatas e alguns outros mamíferos.
“Os comportamentos que observamos deixam poucas dúvidas de que este peixe cumpre todos os critérios do teste do espelho como originalmente definidos. O que fica menos claro é se estes comportamentos devem ser considerados como prova de que os peixes são autoconscientes. Além disso, no passado, esse tipo de comportamento foi interpretado como autoconsciência em inúmeros outros animais.” relata o Doutor Alex Jordan, autor sênior do estudo.
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Sobretudo, a capacidade de perceber e reconhecer uma imagem espelhada refletida como “self”, é considerada uma marca registrada da cognição entre as espécies.
Para testar esse fenômeno em peixes, os pesquisadores aplicaram o clássico teste de “marca” no Bodião-limpador – um peixe marinho mais conhecido por seu comportamento de limpar parasitas externos de outras espécies.
Ao colocar uma marca colorida no animal que pudesse ser vista no espelho, o teste demonstraria se o peixe iria se esfregar ou investigar a possível marca, demonstrando que ele está se enxergando no espelho. Este teste é claramente um desafio para animais como peixes que não possuem membros e mãos.
Os pesquisadores observaram que os peixes tentaram remover as marcas raspando seus corpos em superfícies duras depois de se verem no espelho. Além disso, eles nunca tentaram remover marcas transparentes na presença de um espelho ou marcas coloridas quando não havia o espelho. Isso sugere que os animais marcados estavam respondendo ao sinal visual de ver a marca em si mesmos em seu reflexo.
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O Doutor Jordan reconhece a natureza controversa do estudo, dizendo: “Dependendo da sua posição, você pode rejeitar a interpretação de que esses comportamentos em um peixe satisfazem a passagem do teste. Mas em que base objetiva você pode fazer isso, quando os comportamentos que eles demonstram são tão funcionalmente semelhantes aos de outras espécies que passaram no teste?“
Contudo, os editores da revista PLOs Biology também reconheceram potencial de controvérsia, e encomendaram um parecer do professor Frans de Waal, um dos principais primatologistas da Universidade Emory, que estudou o auto-reconhecimento espelhado em mamíferos.
Enquanto de Waal acha o estudo dos peixes intrigante, ele pede cautela ao interpretá-lo.
“E se a autoconsciência se desenvolver como uma cebola, construindo camada sobre camada, em vez de aparecer de uma vez?” pergunta de Waal.
“Para explorar ainda mais a autoconsciência, devemos parar de olhar para as respostas ao espelho como seu teste decisivo. Somente com uma teoria mais enriquecida e uma bateria de testes maior, poderemos determinar todos os vários níveis de autoconsciência, incluindo onde exatamente os peixes se encaixam”, completa.
Referências Bibliográficas
Masanori Kohda, Takashi Hotta, Tomohiro Takeyama, Satoshi Awata, Hirokazu Tanaka, Jun-ya Asai, Alex L. Jordan. If a fish can pass the mark test, what are the implications for consciousness and self-awareness testing in animals? PLOS Biology, 2019; 17 (2): e3000021 DOI: 10.1371/journal.pbio.3000021