Da superfície às profundezas: Segundo um novo estudo, espécies de peixes transportam carbono para ajudar na regulação climática dos oceanos.
Muito além do que nós podemos enxergar em um mergulho, as profundezas do oceano ainda são um grande mistério para a humanidade. No entanto, existem pesquisas que se aventuram nessas águas desconhecidas e revelam como a maior migração do planeta pode ser aliada para mitigar os efeitos das mudanças climáticas globais.
Um estudo divulgado pela ABRAÇOS, projeto entre o Brasil e a França, confirmou que, no Nordeste, algumas espécies de peixes transportam carbono da superfície do oceano para as profundezas causando um deslocamento fundamental para regulação do clima e da saúde do planeta.
O trabalho recém-publicado traz muitas informações inéditas sobre a alimentação, habitat e comportamento migratório do peixe-víbora, uma espécie do oceano profundo. Os pesquisadores observaram que no Nordeste do Brasil o peixe-víbora é muito mais comum do que se esperava. Além deste estudo, cerca de 207 espécies de peixes foram identificadas até o momento, incluindo novas espécies e organismos que até então não haviam sido encontrados em águas brasileiras.
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Na maior parte das regiões tropicais, por exemplo, o peixe-víbora permanece em águas profundas durante toda a sua fase adulta. Em regiões temperadas, no entanto, esses animais migram para a superfície e interagem com predadores de águas superficiais. Essa diferença no comportamento entre regiões oceânicas tem importantes implicações no processo de transporte do carbono e, por consequência, na regulação climática.
O movimento sincronizado de animais marinhos entre regiões profundas e superficiais é chamado de “migração vertical”. É um deslocamento realizado todos os dias e movimenta trilhões de animais, sendo assim considerada a maior migração do planeta.
“Em uma escala humana, seria como correr 10 km para conseguir jantar e, em seguida, 10 km antes de ir para cama, com o dobro de velocidade de um corredor de maratona olímpica”, explica o engenheiro de pesca Leandro Nolé.
Esse comportamento se deve, principalmente, pela alimentação desses animais. À noite, eles sobem para a superfície para se alimentarem e durante o dia se escondem nas profundezas. Além disso, também funciona como um mecanismo de proteção que garante a sobrevivência de milhares de peixes, no qual os animais evitam virar alimento de seus predadores.
Sobre a pesquisa
A pesquisa foi divulgada pela ABRAÇOS que, durante o estudo, coletou informações entre os anos de 2015 e 2017 sobre análise de peixes que vivem abaixo dos 200 metros de profundidade.
Para se ter uma ideia, o oceano possui em média 4 mil metros de profundidade. O estudo faz parte do LMI Tapioca, Laboratório Multidisciplinar em Ciências do Mar, uma parceria entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e institutos franceses de desenvolvimento (IRD – França), na qual fazem parte os laboratórios BIOIMPACT (UFRPE), LIZ (UFRJ) e Marine Biodiversity, Exploitation and Conservation (MARBEC).
Animais ameaçados
Apesar da importância para mitigar os efeitos do aquecimento global e o pouco conhecimento que temos acerca desses animais, é uma fauna já ameaçada por fatores como poluição de plástico nos oceanos, exploração de minério no mar profundo e mudanças climáticas que interferem na temperatura e acidez de seu habitat natural.
*Matéria original publicada em Diário de Pernambuco.