Carlos Castilho, um famoso piscicultor da região Norte, planeja espalhar diversas espécies de peixes amazônicos pelo Brasil e o mundo.
Natural do Estado do Paraná, Carlos Castilho passou boa parte da infância brincando na roça, em meio às colheitas de soja, milho e café que o pai dele plantava. Até que em 1975, por força da natureza, a história de sua família mudou.
“Em 75 houve aquela geada grande, que acabou dizimando todos os cafezais do estado. O pai tava com o cafezal todo florido, esperava uma grande safra e de repente aquilo se acabou. Então ele falou assim: ‘vamos para um lugar que não geia’. Aí ele migrou para o Norte”, conta Carlos.
Primeiro, a família se estabeleceu em Boca do Acre, Amazonas. Carlos, que chegou à região com apenas 10 anos, cresceu e se casou por ali. Embora acostumado a trabalhar na pecuária e no comércio com o pai, decidiu se mudar para Rondônia para tocar o próprio negócio
“Em Porto Velho, a gente foi mexer com pecuária e comércio. No entanto, a vocação nossa sempre foi a pecuária. Tava no coração ser pecuarista, criar o gado, engordar o boi”, diz. Com o tempo, a piscicultura começou a chamar atenção. Além disso, a pecuária possui áreas de pasto e no alagado, nas áreas antropizadas, a nossa Secretaria de Meio Ambiente autoriza a construção de tanques para peixes. Eu fui estudando a piscicultura e em 2003 vi a necessidade de começar justamente por ter essas áreas ociosas, Comecei com um negócio pequeno e fui crescendo. Aqui tem um nicho de mercado, e a piscicultura cresceu no estado de Rondônia. O peixe está no curso d’água e o boi tá no pasto. São duas atividades muito gratificantes aqui para a nossa região”, explica Carlos.
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Embora a piscicultura ainda seja relativamente nova e não figure entre as principais indústrias do agronegócio brasileiro, o produto acredita que o potencial é enorme. “A piscicultura é uma atividade em que o pequeno pode se tornar grande produtor de alimento. Em um hectare ele pode chegar a produzir 8 toneladas de peixe. Na pecuária, eu vou conseguir produzir 180 kg de boi por hectare. Se eu multiplicar o quilo do peixe vezes 8 mil, vou ter uma rentabilidade muito superior à pecuária, com menos espaço”, explica.
A piscicultura é apaixonante. É um animal que a gente vivia pescando, predando os rios. Nós podemos ter ele ali, dentro de um cativeiro, produzido de forma ecologicamente correta. Eu pego um alevino e transformo em um peixe grande, maravilhoso em pouco tempo. Um pirarucu, por exemplo, em 11 meses chega a 10 kg. Um tambaqui, em 11 meses, chega a 3kg. Na natureza, a gente espera 5, 10 anos por um peixe desse”.
Sobretudo, com produção de 8 toneladas de peixes a cada hectare, Carlos fez sua primeira exportação de pirarucu em 2010. “Saiu pirarucu daqui que foi para Itaporã e de lá para Suiça, Alemanha e Estados Unidos. A aceitação foi fantástica. O tambaqui, por exemplo, ganhou o festival de Bruxelas há uns anos atrás como melhor peixe do festival”.
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Para 2021, as metas são ainda mais ambiciosas. O próximo projeto é montar uma cooperativa de produtores, com frigorífico próprio, capaz de aumentar a escala de produção.
“Hoje, por exemplo, Rondônia produz 40 mil toneladas de peixes. O Brasil, se for comer um bife de peixe por dia, come esse peixe de Rondônia em um mês. O tambaquie o pirarucu, dois peixes que são obrigatórios de serem criados aqui na região pela questão do clima, precisam de calor e de água quente. O tambaquié um peixe excelente, sabor inigualável, e aceita o tempero que a gente colocar nele. Mas o pirarucu, muita gente fala que é o bacalhau brasileiro. Uma empresa norueguesa está nos assessorando para colocar a mesma tecnologia usada no bacalhau para usarmos no pirarucu. É o nosso foco para 2021, focar na produção desse “bacalhau tropical”. Esses peixes possuem potencial para conquistar qualquer paladar do Brasil e do mundo”, sonha alto. É melhor não duvidar.
*Matéria original publicada em G1.