Devido a pandemia e, consequentemente, a tranquilidade no mar, algumas espécies de peixes, como o budião-azul, ameaçado de extinção, estão começando a se aproximar da costa.
Quando estão na superfície do mar, os peixes escutam qualquer tipo de ruído e se dispersam ao perceber a proximidade de humanos. Devido a pandemia, nos últimos três meses, os peixes começaram a voltar a nadar mais próximos da costa e em maior quantidade. Até algumas espécies em extinção, como o budião-azul, reapareceram no litoral.
O enorme silêncio no mar parece ter deixado os peixes muito mais à vontade para circular em seus domínios. A grande maioria dos peixes possuem uma boa “audição”, além de sensores laterais que reconhecem sons de baixa frequência. Qualquer tipo de barulho pode significar perigo. No entanto, algumas espécies que geralmente preferem águas mais distantes da costa, como o badejo e budião-batata, também têm aparecido.
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Em Salvador, na praia do Porto da Barra, que costuma ficar repleta de banhistas e embarcações em dias comuns, cardumes de budião-azul começaram a aparecer e frequentar o local.
Além disso, a chegada de uma tartaruga marinha de grande porte para desovar na mesma praia, no dia 16 de junho, já havia acendido o alerta quanto à resposta dos seres marinhos à recente quietude dos dias. Para se ter uma ideia, a desova de tartaruga não acontecia na praia do Porto da Barra há, pelo menos, 20 anos.
Infelizmente, o desaparecimento cada vez mais frequente do budião-azul é consequência direta da pesca predatória. Como os budiões não costumam interagir com anzóis, os pescadores usam manzuás – gaiolas feitas com fibra de bambu – para captura-los.
A espécie é fundamental para a preservação e manutenção dos corais e necessita de locais iluminados, pois se alimentam, basicamente, de algas. No entanto, devido ao barulho, os peixes costumam se afastar dessa região.
O mar está silencioso…
O professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e doutor em Oceanografia George Olavo, acredita numa sinergia de fatores. Devido ao fato do mar estar silencioso, os peixes costumam voltar a circular com mais proximidade à costa. A própria limpeza da água, favorece o encontro com cardumes e peixes isolados.
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A diminuição na frequência de pescadores no mar pode, combinado a isso, aumentar a disponibilidade dos peixes, antes rapidamente afugentados ou pescados. Além disso, mesmo os ruídos fora d’água, como de veículos que circulam nas avenidas da orla, são ouvidos no ambiente marinho. As consequências da pandemia podem fazer parte de um efeito somatório que pode explicar o retorno massivo de algumas espécies.
“Os ruídos espantam e, falando em particular, ali no Porto da Barra, com certeza, com a quantidade de banhistas e de embarcações com motor, os peixes vão se afastando”, explicou Olavo.
Se a pandemia e, consequentemente, o esvaziamento das praias e a tranquilidade no mar foram suficientes para voltar a atrair espécies em extinção, só o tempo e as pesquisas confirmarão. No entanto, pescadores e mergulhadores estão curiosos em saber como um silêncio, mesmo que breve, pode ser capaz de revigorar a natureza a esse ponto.