O Peixe de Quatro Olhos, Tralhoto (Anableps anableps) é um animal realmente incrível, com seus olhos curiosamente divididos. Apesar do nome, ele não possui quatro olhos. Na verdade, o que existe é basicamente uma adaptação para o seu estilo de vida. Acredita-se que esse peixe único tenha evoluído com o propósito de poder explorar o estreito nicho ecológico entre os habitats aquático e terrestre.
Abaixo, confira um guia de cuidados completo sobre o Peixe de Quatro Olhos. Aprenda como alimentar esse peixe, suas características físicas e comportamentais, além de processos como a reprodução e configuração de aquário.
Ficha Técnica do Peixe de Quatro Olhos
Nome: Peixe de Quatro Olhos, Tralhoto, Four-Eyed Fish, Anableps, Largescale Foureyes, Striped Foureyed Fish;
Nome Científico: Anableps anableps (Linnaeus, 1758);
Família: Anablepidae;
Origem da Espécie: América do Sul (Trinidad, Venezuela e Brasil);
Comprimento: Até 30 cm (Comum: 14 cm);
Expectativa de Vida: Até 8 anos;
Nível de Dificuldade: Moderado;
Parâmetros da Água
pH: Manter o pH da água entre 6.5 – 8.0;
Dureza da Água: Entre 5 – 18 dH;
Temperatura: Manter entre 20 – 24°C;
Características
Distribuição e Habitat
O Peixe de Quatro Olhos foi descrito pela primeira vez por Linnaeus em 1758. A espécie pode ser encontrada ao longo da costa atlântica da América Central e Sul, além da ilha de Trinidad.
Na natureza, o Peixe de Quatro Olhos habita lagoas de água doce, bem como estuários. Esses estuários possuem uma salinidade flutuante devido ao fluxo e refluxo da maré. Cardumes de fêmeas adultas nadam ao longo da superfície da água com os machos seguindo de perto. Durante os períodos de maré baixa, esses grupos costumam ficar realmente muito grandes.
A espécie se alimenta principalmente na superfície, embora às vezes nade até o fundo em busca de alimento. Ele também salta para apanhar insetos terrestres nas margens lamacentas e arenosas. A dieta do Peixe de Quatro Olhos consiste em insetos e pequenos caranguejos (família Grapsidae) e peixes, além de outros invertebrados e diatomáceas.
Esses peixes podem permanecer em áreas lamacentas e arenosas expostas ao ar durante a maré baixa. Alguns indivíduos já foram observados pulando para fora da água para descansar ao sol por vários minutos.
Aparência
O Peixe de Quatro Olhos possui realmente Quatro olhos? Não! Embora ele tenha esse nome, seus olhos são apenas divididos horizontalmente com uma faixa de tecido, fazendo com que pareçam quatro ao invés de dois. O peixe aproveita desse recurso para ver acima e abaixo da água simultaneamente, ajudando-o a garantir comida e se proteger de seus predadores marinhos.
Em relação a forma física, o Peixe de Quatro Olhos possui corpo cilíndrico de cor marrom-oliva. O flanco e a barriga desse peixe são de cor creme claro com quatro faixas escuras paralelas. Essas listras começam atrás das grandes barbatanas peitorais.
A características mais notável da espécie são seus grandes e bulbosos olhos que se destacam de sua cabeça minúscula. Além disso, suas barbatanas dorsais, localizadas na parte de trás do corpo, evitam que o peixe se mova de forma descontrolada.
Alimentação
O Tralhoto é principalmente carnívoro, embora haja algumas vertentes que divergem um pouco desse assunto, dizendo que ele pode se alimentar de pequenas quantidades de matéria vegetal. Na natureza, sua dieta consiste principalmente de insetos e pequenos caranguejos, mas também de peixes pequenos, diatomáceas, anfípodes, caramujos, mexilhões e minhocas em quantidades menores.
Nos aquários, ele aceitará prontamente rações em pellets, flocos e alimentos liofilizados, além de insetos vivos do tamanho de grilos. Alguns alimentos vivos, como artêmias, bloodworms, bem como dáfnias, podem ser oferecidos para variar um pouco sua dieta.
Lembre-se que esses animais procuram comida principalmente na superfície e áreas terrestres circundantes. Então, é uma boa ideia garantir que haja bastante alimento na superfície da água, pois eles não irão atrás de alimentos que caiam no fundo do aquário. Às vezes, eles podem mergulhar e buscar algum alimento ou até mesmo pular para fora da água para pegar qualquer coisa que tenha ficado em superfícies fora dela, mas é um pouco mais raro em cativeiro.
Por fim, caso a dieta do Peixe de Quatro Olhos possua alguma deficiência em proteínas, ele apresentará problemas no crescimento e e também desenvolverá deformidades em sua coluna.
Temperamento / Comportamento
De comportamento pacífico, o Peixe de Quatro Olhos pode se alimentar de pequenos animais que possam caber em sua boca. No entanto, por ser um peixe que gosta de viver em cardumes, você deverá manter um grupo com no mínimo 6 exemplares da espécie.
Nunca mantenha esse peixe sozinho ou em pares, pois ele costuma ficar agitado e agressivo com seus companheiros de aquário.
Compatibilidade
Como o Peixe de Quatro Olhos também se desenvolve em ambientes de água salobra, ele pode ser mantido, por exemplo, com Molinésias Latipina, gobies que vivem no fundo, Mudskippers e até mesmo ciclídeos, como o Peixe Mexerica.
Dimorfismo Sexual
Quando ainda são peixes jovens, os machos e as fêmeas são bastante parecidos. A barbatana anal do macho se desenvolve em um gonopódio, enquanto a fêmea cresce rapidamente e eventualmente se torna mais proeminente do que suas contrapartes masculinas.
Uma característica distintiva é que o Peixe de Quatro Olhos macho possui o órgão sexual gonopódio, que têm o formato de um tubo que ajuda no processo de reprodução.
Acasalamento / Reprodução
O Peixe de Quatro Olhos se reproduz em aquários que possuam uma grande área de superfície. Além disso, os mais jovens atingem a maturidade sexual por volta dos 8 meses de idade e quando chegam aos 15 centímetros de comprimento.
Curiosamente, o macho e a fêmea possuem os órgãos sexuais orientados, ou para a direita, ou para a esquerda. Isso quer dizer que o macho destro só pode copular com a fêmea canhota e vice-versa. Interessante, né?
Durante o acasalamento, o macho se aproxima da fêmea por trás, se empurrando contra ela para estimular a procriação. O período de gestação é de cerca de dois meses e, geralmente, as fêmeas produzem por volta de 10 – 15 filhotes. Os filhotes, por sua vez, são bastante grandes, podendo atingir até 7 centímetros de comprimento.
Os pais geralmente ignoram os filhotes e, por isso, eles podem ser comidos por outros peixes. É importante que eles tenham espaço para nadar livremente e ter lugares adequados em áreas rasas para encontrar abrigo, se necessário.
Além disso, os alevinos podem se alimentar de pequenos alimentos vivos, como dáfnias, vermes, e também rações em flocos ou grânulos bem pequenos. As fêmeas crescerão rapidamente se alimentadas adequadamente.
Configuração do aquário
O aquário para o Peixe de Quatro Olhos precisa ter no mínimo 250 litros para um grupo formado por peixes jovens. No entanto, os adultos da espécie precisam de pelo menos 480 litros para viverem tranquilamente.
Como o Tralhoto passa a maior parte do tempo na superfície, ele precisa de um aquário mais largo do que alto. Além disso, por ser um excelente saltador, o aquarista deve adicionar uma tampa bem firme para evitar possíveis fugas.
Em seu habitat natural, esses peixes vivem em estuários. Então, o ideal é adicionar bastante sal na água para simular ambientes com água salobra. Para um aquário do tipo, adicione 2 colheres de sal marinho para cada 4 litros de água. As condições de salinidade na natureza, no entanto, são variáveis e isso realmente beneficia essa espécie.
O Peixe de Quatro Olhos costuma produzir muitos resíduos e, portanto, o aquário deve conter um excelente sistema de filtragem para lidar com essa carga biológica. O sistema de filtragem ajuda a criar uma grande colônia de bactérias nitrificantes para manter a água estável. Por gostar de viver em ambientes de águas salobras, você deve se lembrar que o sal não evapora, então se faz necessário realizar grandes trocas parciais de água no aquário.
Por fim, se possível, procure inclinar o substrato de modo que o aquário possua bancos de areia lisos e escorregadios. Isso permite que esses peixes saiam da água para se alimentarem ou apenas descansarem.
Referências Bibliográficas
Cervigón, F., R. Cipriani, W. Fischer, L. Garibaldi, M. Hendrickx, A.J. Lemus, R. Márquez, J.M. Poutiers, G. Robaina and B. Rodriguez, 1992. Fichas FAO de identificación de especies para los fines de la pesca. Guía de campo de las especies comerciales marinas y de aquas salobres de la costa septentrional de Sur América. FAO, Rome. 513 p. Preparado con el financiamento de la Comisión de Comunidades Europeas y de NORAD. (Ref. 5217);
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