A partir de R$732, Ilha do Pacífico lança financiamento coletivo para proteger suas águas da pesca ilegal, poluição e mudanças climáticas.
Por menos de US$ 150 (R$ 732), é possível patrocinar a conservação de 1 km² de água de Niue, uma pequena ilha no oeste do Pacífico Sul que tem menos de 2.000 habitantes.
Localizada entre Fiji e as Ilhas Cook, as vastas águas do território, conhecido como a “Rocha da Polinésia”, abrigam recifes de coral e montanhas subaquáticas onde vivem tubarões, golfinhos, tartarugas e outras espécies.
Mas encontrar financiamento para proteger esses habitats das ameaças de pesca ilegal, mudança climática e poluição é um desafio para um dos menores Estados do mundo.
“Temos participado de conferências há muito tempo para contar nossa história, mas parece que não estamos chegando a lugar nenhum”, diz o primeiro ministro da ilha, Dalton Tagelagi, em uma entrevista na sede das Nações Unidas em Nova York, Ele vê as cúpulas entre líderes na Assembleia-Geral da Onu como “conversas festivas sem ação”.
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O novo plano é uma tentativa de reverter esse cenário. Com os Compromissos para a Conservação do Oceano (OCCs), empresas e indivíduos podem pagar a partir de 250 dólares neozelandeses – cerca de US$ 149 (R$732) – para proteger uma unidade de 1 km² de superfície de água do país. Aqueles que contribuírem receberão um certificado junto com um relatório anual dos progressos.
A ideia do governo é proteger 127 mil km² de oceano, ou 40% de suas águas, a partir de uma estimativa de arrecadação de US$ 18 milhões (R$ 88,4 milhões) em um período de 20 anos. Segundo Tagelagi, o próprio governo patrocina 1.700 unidades, uma para cada habitante.
O perigo da pesca ilegal
Uma das grandes preocupações do político é a ameaça de pesca em áreas protegidas.
Atualmente, grande parte dessa atividade é realizada como meio de subsistência, com canoas tradicionais. Mas à medida que a tecnologia dos equipamentos e da refrigeração de alimentos melhora, a quantidade de peixes capturados aumenta, diz Brendon Pasisi, gerente do projeto Niue Ocean Wide, uma entidade público-privada responsável pela iniciativa de financiamento.
Há temores de que esse contexto aumente o risco de frotas estrangeiras de pesca em áreas protegidas e que a poluição por plásticos e o escoamento de resíduos industriais contribuam para degradação do meio marinho.
“É uma área enorme para cobrir com barcos de patrulha. Por isso, estamos procurando drones”, diz o primeiro-ministro Tagelagi.
A ilha está cerca de 60 metros acima do nível do oceano em seu ponto mais alto e não corre o risco de ser coberta pelo nível do mar, como muitas outras. Mas o clima ameaça de várias formas – a acidificação e o aquecimento do oceano ameaçam espécies marinhas, incluindo os corais, e o aumento do nível do mar pode contaminar as fontes de água doce da ilha.
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As mudanças climáticas também intensificam as tempestades tropicais, com as quais Niue já sofreu. A ilha lidou por anos com as consequências da passagem do ciclone Heta, de categoria 5, em 2004.
O modelo é “muito inovador”, na visão de Angelo Villagomez, pesquisador do Center for American Progress e especialista em conservação liderada por nativos. “Se vamos combater as mudanças climáticas, se vamos proteger os recursos dos oceanos, precisamos levar dinheiro para essas comunidades na linha de frente”, afirmou.
Isso, acrescentou Villagomez, é vital para todo o processo – desde a compra de embarcações e combustível até o desenvolvimento de planos de gestão e pagamento dos salários de guardas florestais e cientistas.
O sucesso poderia ser medido com indicadores-chave, diz o pesquisador. “Há mais peixes?” Estão sendo implementadas medidas de mudança climática?”, exemplifica.
Pode ser necessário, porém um esforço de comunicação para que o público entenda que a proteção das áreas oceânicas da mesma forma que entende a dos parques naturais. Algo real e tangível, diz ele, não que exista apenas no papel.